quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Verglas

Segundo o Michaelis, verglas quer dizer "camada fina de gelo que se forma sobre o solo, geada". Cá pra nós, pensei que geada fosse outra coisa. Mesmo que o dicionário tenha razão, eu acho que o "verglas" aqui no Canadá é muuuito mais forte do que a geada lá no Brasil.

O verglas é um fenômeno que acontece quando a chuva cai e a temperatura é menor que zero. Assim que toca no chão, nas árvores, nos carros e sei lá mais onde, a chuva congela. Aí é um tal de gente escorregando na calçada, motorista de espátula na mão pra tirar o gelo do pára-brisas do carro, árvore se dobrando (ou até mesmo se partindo) por causa do peso do gelo, enfim, um inferno em pleno frio de -16ºC.

O verglas é bonito, mas com ele não se brinca. As calçadas ficam mesmo escorregadias, e é preciso ter botas especiais pra enfrentar esse perigo. Hoje eu levei minha primeira queda na rua, mas não foi exatamente culpa do verglas; eu escorreguei num montinho de neve mesmo. E a neve era tanta que eu consegui me segurar e não cheguei a cair. Foi muita sorte. Se fosse numa calçada "enverglassada"eu poderia ter me esborrachado.

Tirei umas fotos pra registrar o meu primeiro verglas. Dá uma olhada:
Verglas

-20ºC

(com sensação de -30)

Confesso que tomei o maior susto quando acordei na manhã da segunda-feira, dia 8. O vidro da janela parecia estar rachado, mas eram apenas pequenos riscos de gelo que tinham se formado. Ainda bem. Depois, outro susto: ao olhar para o rio Saint-Laurent, o que eu vi foi um monte de fumaça branca saindo das águas, um verdadeiro nevoeiro. Estranho, muito estranho.

Corri pra ligar a TV no canal do Tempo. A previsão era de -16ºC, mas fazia -20! Incroyable! Mas frio não é desculpa pra não sair de casa (pelo menos não no Quebec) e lá fui eu enfrentar o medonho. Um metro fora de casa e já deu pra sentir que não era brincadeira. -20 com sensação de -30! Não dá pra descrever direito o que é isso, só sentindo na pele. Se bem que eu não senti nada, pois estava todo dormente. ;)

Brincadeira. Mas -20ºC não é tão ruim quanto eu pensava que fosse. Tenho um casaco não muito sofisticado, que custou apenas 35 dólares, e ele me serviu direitinho. Não senti absolutamente frio nenhum. Pra não dizer frio nenhum, senti um pouco nos pés (ainda não comprei minhas botas de inverno) e um pouco no rosto, mas só quando o vento batia de frente. Em resumo: mesmo sem estar vestindo o que o "manual do novato" manda vestir, não tive muito problema com o dia mais frio que já vivi até hoje. Pensei que ia ser o fim do mundo, mas não vi muita diferença entre -20 e -5, por exemplo.

Não sei se a sensação de frio pode ser maior do que essa, mas espero não ter que encarar temperaturas menores. ;)

À bientôt!

domingo, 7 de dezembro de 2008

Sobrevivi mais uma vez

Mesmo distante, não dá pra esquecer o meu querido Náutico. Hoje à tarde o Timbu jogou seu destino contra o Santos, na Vila Belmiro. Precisava ganhar pelo menos um pontinho pra se manter na Primeira Divisão em 2009. E aconteceu o que era de se esperar: tensão do começo ao fim.

Não havia nenhum site transmitindo as imagens. Tive que me contentar com o som. Sem Lexotan, sem ninguém do lado pra dividir o sofrimento, só me restava olhar pela janela e ver a neve cair. Lá fora, -4ºC; aqui dentro, um calor arretado!

Foram 90 minutos de aperreio. O Santos bombardeando, nosso goleiro fazendo milagres e o tempo sem querer passar. Quando todos os outros jogos já haviam terminado, o juiz cismou de dar 5 minutos de acréscimo. Os 5 minutos mais demorados dos últimos tempos. Mas o time conseguiu segurar o empate, para alívio geral da Nauticanadá.

Anteontem eu sobrevivi ao maior frio que já tinha enfrentado na vida. Hoje sobrevivi ao jogo mais nervoso do ano. Amanhã vai fazer mais frio ainda: -18ºC, com sensação de -29! Vai ser difícil, mas pra quem torce pelo Náutico isso não é nada. ;)

Se quiser ver como foi o sofrimento, clique aqui.

À bientôt!

sábado, 6 de dezembro de 2008

Sobrevivi!

Queixo dormente, mãos quase congeladas. Sobrevivi, mas entendi o significado da tal "sensação de -15ºC": é muito simples, é como se a gente estivesse dentro de um freezer. ;)

Mas é verdade o que me disseram: o frio em si não é problema, basta estar bem protegido. O que eu preciso é comprar boas luvas e um acessório qualquer pra proteger o queixo. Aí (acho) vou estar preparado para o inverno canadense.

Além de driblar o frio e aproveitar o passeio na cidade de Quebec, ainda pude ajudar um sujeito que estava perdido, procurando o caminho para a estação rodoviária. "É bem ali, rapaz. Não tá vendo não?"

À bientôt!

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

-9ºC

A manhã dessa sexta-feira vai ficar na história. Pelo menos na minha história. O site Meteomedia avisa que vai fazer um solzão, mas a temperatura vai chegar a -9ºC. E não é só isso não. É -9 Com sensação de -15!

Fico aqui imaginando como será a sensação de -15. Será que a gente consegue andar? Pensar? Respirar? Brincadeira, claro. Se a gente estiver bem agasalhado o frio não incomoda. Mas pra quem é "novato" em matéria de inverno canadense, o problema é justamente saber se agasalhar.

A menor temperatura que já alcancei foi -6, há quinze dias, enquanto assistia a um desfile de Natal no centro de Montreal. Eu estava com três calças, duas camisas e mais o casaco. O frio no rosto era suportável, mas minhas mãos quase congelaram: é que eu passei uns dez minutos sem luvas, enquanto tirava umas fotos. Era como se eu tivesse colocado minhas mãos dentro de um freezer! Corri para o banheiro mais próximo, abri a torneira de água quente e deixei minhas mãos uns 30 segundos ali, para que elas voltassem ao normal.

Amanhã vai fazer -9. Com sensação de -15.

Tô me sentindo como um pingüim.

E o inverno nem começou ainda!

Les Étoiles Filantes

Tá a fim de conhecer uma música legal? Lá vai uma sugestão: Les Étoiles Filantes, do grupo Cowboys Fringants. É a cara de Montreal.

Pra acompanhar a letra, clique aqui.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

24 horas, 7.097 km e três farmácias

Li hoje, no 24 horas (http://montreal.24heures.ca) que Montreal tem apenas uma farmácia aberta 24 horas por dia. Incroyable! Unbelievable! Recife, que não é de primeiro mundo nem nada, tem uma tuia. Tá bem, vá lá que seja... não é uma tuia, mas eu tenho certeza de que não é uma só. Se nada mudou desde que viajei, me lembro que tem uma na avenida Caxangá, duas bem perto do clube Português e outra nos Quatro Cantos. Quatro farmácias abertas 24 horas. E sem precisar pensar muito.

7.097 quilômetros separam Montreal do Recife. 7.097 quilômetros e pelo menos três farmácias. ;)

C'est la vie, mes amis! C'est la vie...

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Ça ne marche pas !

Eu adoro a forma québécoise de dizer certas coisas. Por exemplo: quando algo não funciona, o francês da França diz "ça ne fonctionne pas"; ja o québécois diz "ça ne marche pas". O "fonctionne", evidentemente, é bem mais próximo do nosso "funciona", mas cá pra nós, eu prefiro "marcher".

Gosto das expressões québécoises, mas gosto mesmo é de quando eu estou na parada do ônibus e ele está atrasado. Tá bem, você deve estar pensando que o frio já começou a me fazer mal, que até ontem eu reclamava do atraso dos ônibus daqui e coisa e tal... mas eu explico: eu gosto porque sempre chega alguém perto da placa onde o horário dos ônibus esta afixado e fica lá... olhando pra placa, olhando pro relógio... aí então eu aproveito pra chegar perto, caprichar no meu francês québécois e dizer "Désolé, mais ils sont toujours en retard. Ça ne marche pas !". Normalmente consigo no mínimo um sorriso. É que eles sabem que não funciona mesmo.

O québécois não gosta muito de reclamar não. Mas aos poucos eu vou ensinando como é que se faz. Principalmente no que se refere à STM. ;)

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Detesto esses choques

Todo dia, aqui em Montreal, eu digo um monte de palavrões. Mas não é só por causa dos ônibus da STM não. Tem uma coisa que me aborrece ainda mais do que eles: os choques. É, é isso mesmo: aqui a gente leva choque todo dia, vou logo avisando. Claro que há as exceções, tem gente que nunca levou choque, mas infelizmente não estou nesse grupo de privilegiados.

O negócio é o seguinte: se a gente vai pressionar o botão do elevador, leva choque. Se vai abrir a porta e toca de leve na maçaneta, leva choque. Se bate em alguém, leva choque. Empurrando carrinho de supermercado então... é um choque atrás do outro. E tome palavrão! O choque já é ruim; juntando com o susto faz a gente virar uma bomba. Uma bomba de nervos. Um choque, uma explosão. Normalmente seguida de um ou dois palavrões, claro.

Hoje pela manhã eu fui pentear o cabelo e quando aproximei a mão da cabeça os cabelos ficaram em pé. Afastava a mão, os cabelos baixavam. Aproximava, eles levantavam. Coisa mais estranha. Eu devia ter filmado. Ah, antes que me perguntem: eu não testei em outras partes do corpo.

Hoje à tarde, na aula de francês, levei o maior choque no quadro (ou lousa, ou tableau, sei lá). A professora tinha me chamado pra escrever uma frase e, na hora que eu toquei no danado pra pegar o pincel atômico, foi aquele susto. Mas o susto foi tão grande que a professora se assustou também. Coitada, ela ainda pediu desculpas. Como se fosse ela a culpada.

Soube que a real culpada por tudo isso é uma tal de eletricidade estática, que eu nem me lembrava mais que existia. Tenho uma vaga lembrança de ter sido apresentado a ela quando fazia o segundo grau, mas não tenho certeza. Acho que eu esqueci porque em Recife não tem esse negócio não. Ou, se tem, não funciona. Ainda bem.

%@#$%#!!! Eu detesto levar choque!

Alguém sabe se existe luva de borracha?

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Consumidor aqui tem que prestar atenção

Parece mentira, mas não é. Soube hoje que aqui no Quebec não é obrigatório informar a data de validade nos rótulos dos alimentos. Informa quem quer. Como não é obrigatório, não existe fiscalização. Aí já viu, né? Vez por outra a gente encontra produto "vencido" à venda nos supermercados. Tudo bem que não é tão comum, mas mesmo assim. Produto fora do prazo de validade... convenhamos... é um absurdo. Principalmente num país dito de primeiro mundo.

E tem mais: alguns dos produtos que trazem a data de validade fazem questão de complicar a danada. Em vez de um simples 18/11/2008 (ou 11/18/2008, vá lá que seja) o que a gente encontra é um amontoado de caracteres que só depois de meia hora a gente vai entender. Misturam data, hora, minuto e segundo com número de lote e não-sei-mais-o-quê, só pra confundir.

Pra quem acha que nada no Brasil presta, que nós somos os mais atrasados, que tudo no primeiro mundo é melhor: vá alguém vender produto vencido pra ver o que acontece. O Código de Defesa do Consumidor, pelo menos, funciona.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Meu primeiro "brouillard"

Acordei na última quarta-feira e tomei um susto arretado: em vez da bela paisagem da janela, um nevoeiro. A visibilidade era de menos de um metro. Incroyable! Era como se o nosso edifício estivesse dentro de uma nuvem. Eu só tinha visto coisa igual lá no Rio de Janeiro, mais precisamente no Cristo Redentor. A sorte é que não fazia muito frio; a temperatura estava em torno de 8 graus.

Como bom estreante, aproveitei pra tirar uma foto com o meu celular. Mas só lembrei de fazer isso quando estava a caminho da parada de ônibus. Não é lá uma foto muito boa, "le brouillard" já tava mais fraquinho, mas dá pra mostrar mais ou menos como estava Montreal na manhã do último dia 6.

À bientôt!

Chá de bússola neles!

(Ou... A STM e seus motoristas desorientados)

Se há uma coisa que me aborrece em Montreal, essa coisa é a STM. A "Societé de Transport de Montréal" é a empresa responsável pelo transporte público da cidade — ônibus, metrô e trem. De trem nunca andei, do metrô não tenho muito o que reclamar, mas dos ônibus...

Poderia escrever durante horas pra reclamar da STM. Estou sempre com vontade, assunto não me faltaria, mas só de pensar me dá preguiça. Ônibus atrasados, ônibus que queimam o horário, ônibus que passam lotados e não param... mas deixa pra lá. Hoje eu vou falar é dos motoristas desorientados.

Sexta-feira, dia 7 de novembro, por volta das 16h45. Tínhamos saído da garderie e íamos pra casa. Pegamos o 168, como de costume, na parada em frente ao IGA. Logo no primeiro cruzamento, um desvio: a rua Berlioz estava em obras. As obras começaram há dois dias, então era de se esperar que todos os motoristas já soubessem disso. Mas com a STM tudo é possível, e o motorista do ônibus em que eu estava não sabia.

Chegando ao cruzamento ele parou e ficou ali, perplexo, por alguns segundos. Em seguida olhou pra mim com uma cara de desesperado e, enquanto apontava com as duas mãos para a placa "Detour", balbuciou alguma coisa que eu não entendi. "Pardon?", eu disse. E ele perguntou: "pra onde eu vou agora? Direita ou esquerda?" Quase que eu dizia pra ele largar o ônibus ali mesmo e correr pra sede da STM pra perguntar. Também tive vontade de dizer que eles, québecoises, estiveram diante do mesmo dilema há alguns dias mas escolheram errado: a direita, releegendo Stephen Harper. Mas eu achei melhor não complicar muito e apenas ensinar o caminho ao coitado: "à esquerda, à direita e mais adiante à direita de novo. Pronto. Você vai chegar à rua Berlioz novamente". Ainda com cara de cachorro que cai do caminhão da mudança, o sujeito agradeceu: "Merci, monsieur!" De rien, meu velho. E fomos pra casa. Incroyable! Unbelievable! Eu ensinando a um motorista québecois o caminho que ele deveria seguir.

Pensa que foi só esse caso de motorista desorientado? Não. Outra vez, lá no centro de Montreal, a motorista do 168 pegou o caminho errado e em vez de ir para nosso bairro foi bater no Velho Porto. Foi preciso um passageiro ensinar a ela o caminho. Também já aconteceu de outro motorista ser surpreendido, numa manhã de sábado, por um desvio que nos fez andar 5 km a mais do que o previsto. Conheci metade de Montreal naquele dia. Mas eu só queria mesmo era chegar ao centro da cidade em 20 minutos, como sempre. Levei 40.

Talvez as obras de rua não sejam informadas à STM. Se forem, a danada não informa aos motoristas. A culpa eu não sei de quem é, mas quem paga o pato somos nós. Isso numa cidade de primeiro mundo! É chato, mas eu tenho que repetir: incroyable! Unbelievable! Mas é assim. Acredite.

À bientôt!

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Onde há fumaça...

Onde há fumaça... há frio. Pelo menos aqui em Montreal. Hoje pela manhã, quando saímos de casa, o termômetro marcava 5 graus. Isso mesmo: cinco. Cinquinho. Acima de zero, é verdade, mas ainda assim é um frio de lascar.

Enquanto esperava o ônibus, fiquei brincando de soprar o nada. Só pra ver a fumacinha. Acho que as pessoas que estavam perto de mim ficaram pensando que eu tinha aloprado. E quase alopro mesmo. Primeiro pelo frio, quase insuportável. Depois porque esperei por mais de vinte minutos num horário em que - segundo a STM - os ônibus deveriam passar a cada seis.

Sinceramente não sei o que é pior, se o frio ou a STM. Mas essa já é outra história.

À bientôt!

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Gripe globalizada

Gripe globalizada é fogo! Peguei uma há quase quinze dias e ainda não fiquei bom. Acho que o vírus da gripe quebécoise é uma mistura dos vírus das gripes russa, romena, espanhola, brasileira, iraniana, peruana, ucraniana e por aí vai. É disenteria, tosse, moleza, nariz entupido, secreção... tudo ao mesmo tempo agora, como na música dos Titãs.

Quando eu melhorar eu volto a dar (no bom sentido) notícias.

domingo, 10 de agosto de 2008

¡Hay que to be polyglotte!

Lá vamos nós, eu e meu filho, no ônibus a caminho de casa. Brincalhão como ele é, sempre chama a atenção de alguém dentro do ônibus. Desta vez foram duas senhoras que se engraçaram dele e uma delas perguntou: "¿Cuántos meses él tiene?" A minha chave comutadora de idiomas é nova, ainda funciona muito lentamente, então eu demorei uns cinco segundos pra responder "Quince meses". O que seria fácil há alguns anos, pareceu muito difícil agora. Fiquei assustado.

Antes de descer do ônibus, uma mulher chegou perto de mim (o suficiente para que eu percebesse que ela tinha tomado umas e outras) e disse: "You have a nice baby! How old is he?" E lá vou eu mudar a chave de novo. Levei os mesmos cinco segundos até responder: "He's fifteen months old". Não satisfeita, ela completou com um "It's your first?" Ao que respondi, desta vez mais rapidamente, com um preocupado "Yes, yes!" É que o ônibus já havia parado e eu ia descer ali.

O motorista, atencioso como a maioria dos motoristas daqui, não reclamou. Apenas aguardou que eu me livrasse da simpática e ébria senhora e seguisse meu caminho até a porta. Eu, claro, agradeci com o tradicional merci beaucoup. "Bienvenue! Bonne journée!", disse ele. Sim, bienvenue, porque esse negócio de de rien é só lá na França. Aqui é bienvenue.

Aqui em Montreal, hay que to be polyglotte. Em um minuto podem falar com você em três idiomas diferentes. Pra eles é muito normal. Pra mim pode vir a ser normal um dia, mas eu vou ter que passar muita graxa na minha chavezinha comutadora de idiomas.

Meu espanhol de universidade estava esquecido no fundo do baú. Meu inglês, que era até razoável, foi deixado de lado há alguns anos para dar lugar ao francês - necessário para o processo de imigração. O resultado dessa confusão é que eu não posso mais dizer que sou muito bom em nenhum dos três idiomas. Até em português eu estou me complicando, pois de repente descobri que não sei o que é feito do trema (alguém pode me dizer?).

Definitivamente eu não sou um poliglota. Mas um dia eu chego lá. ;)

À bientôt! Bye! Hasta luego! Arrivederci!

Inté!

Queijo coalho em Montreal!

Incroyable! Achei queijo coalho em Montreal!

Na verdade não é o queijo coalho exatamente como o que estamos acostumados lá em Pernambuco; são idênticos na forma, mas um pouco diferentes na consistência. O daqui (de origem desconhecida) é meio duro, meio quebradiço, assim como ficam os pernambucanos quando a gente congela e descongela (estou falando dos queijos, claro). O coalho que encontrei aqui é pra lá de salgado. Quem for hipertenso que tenha cuidado para não ir bater no hospital. O sabor, no entanto, é muito parecido. Muito bom. E ele não derrete quando a gente bota no fogo. Fica inteiraço, crocante. Uma belezura.

Onde eu achei? Num mercadinho na rua Wellington, lá em Verdun. Bem pertinho da estação de metrô De L'Eglise.

Já está com água na boca? Não? Pois vá buscar um guardanapo ou um babador, porque você talvez precise de um depois que olhar direitinho para a foto aí no final. ;)

À bientôt!


Abacaxis da Costa Rica, laranjas da África do Sul

E a salada continua! Tem de tudo em Montreal! Dessa vez eu encontrei abacaxis da Costa Rica (muito bons, eu provei) e laranjas da África do Sul. Com tanta laranja aqui pertinho eles mandam buscar na África do Sul? Não entendi. Ou custam muito menos ou são muito boas. Na dúvida, preferi não arriscar.

Que saudades das pinhas do Recife!

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Do pornobrega à música clássica

No Recife, quando eu andava de ônibus, normalmente tinha que usar tampões de ouvido. Os motoristas adoravam escutar seu lixo musical na maior altura. Sim, claro, porque todos tinham que compartilhar do seu mau gosto. Ali quem mandava era ele e ponto final. Afinal ele já estava fazendo o grande favor de nos conduzir. Era um tal de "vou botar o dedo na sua...", "ai, ai, ai... eu fico toda molhada..." e outras baixarias semelhantes, que me fizeram descer algumas vezes antes de chegar ao meu destino. Sério. Claro que havia os motoristas de bom gosto, mas confesso que só me lembro de dois casos em anos e anos andando de busão pelo Recife.

Em Montreal é difícil andar num ônibus que tenha música. Quando tem, o som é baixinho. E toca música de alto nível, normalmente música clássica. Já ouvi música popular também, mas nada que se comparasse à terrível trilha sonora dos ônibus recifenses. Aqui há um estranho gosto pela era "disco"; já escutei Tina Charles, Bee Gees e outras "feras" da discoteca tanto nos ônibus quanto fora deles. Mas esse é um outro papo.

O que eu queria mesmo era deixar registrada aqui no blog a diferença. Inacreditável. Um país como o Brasil, com uma cultura riquíssima, bem mais diversificada do que a do Canadá, e o que "faz sucesso" é só porcaria? Confesso que queria entender o porquê. Será que o calor afeta o juízo das pessoas? Faz elas gostarem de música ruim? Não sei. Como não posso fazer nada, vou curtir o som dos ônibus de Montreal. Aqui também faz calor, mas em compensação a gente tem As Quatro Estações.

À bientôt!

terça-feira, 22 de julho de 2008

Biscoitos da Jamaica, canetas do México, castanhas sabe-se lá de onde!

Depois das sardinhas das Filipinas, da tapioca da Tailândia e dos biscoitos da Suécia, encontrei outras belezuras importadas aqui em Montreal.

Primeiro foram as canetas mexicanas. Assim como o ministro Gil, sou louco por caneta BIC. E fiquei muito contente quando encontrei as BIC "hechas en Mexico", que por sinal são tão boas quanto as brasileiras.

Melhor que as canetas da terra de Chaves, só os biscoitos da terra de Bob Marley. Yeah, man! Biscoitos de Ovomaltine feitos na Jamaica! Uma gostosura! Mas não dão barato, eu vou logo avisando.

Castanhas? Gostosinhas todas. Tão boas quanto as do Ceará. Mas o problema é que ninguém sabe de onde vêm. Podem ser de lá, podem ser um pedaço de Saigon, podem ser de Calcutá. Na embalagem (olha aí do lado) tem escrito: "Produto do Brasil ou Índia ou Vietnã, embalado na China". Que confusão! Com toda certeza são embaladas na China, mas ninguém sabe de onde vêm as castanhas. Pode? Aqui pode.

Por enquanto ainda não encontrei nada de Vanuatu.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Toys-R-Us: fale com o gerente

O Canadá não é só a Bell. Aliás, a maior parte das empresas aqui tratam o consumidor com respeito. Anteontem, poucos dias depois de resolver minha confusão com a Hell, digo, Bell, comprei um carrinho de bebê na Toys-R-Us. Em casa, quando fui montar, percebi que a caixa já tinha sido aberta. Faltavam peças e não havia manual de instruções. Dá pra imaginar a raiva que eu tive, não dá? Pensei: "Não é possível! Lá vem aperreio de novo?".

Procurei o site da empresa e lá peguei o telefone do atendimento ao cliente. Liguei pra lá e simplesmente me disseram que eu teria que ir à loja trocar ou devolver o produto. E o dinheiro que eu vou gastar de taxi? Não podemos fazer nada, senhor. We apologize for that. E só.

Me arretei e liguei pra loja. Me passaram para o gerente, que me atendeu muito bem. Concordou que eu gastaria muito de taxi (75 dólares, quando o carrinho custou 140) e me disse alguma coisa que não entendi muito bem. Ele repetiu, dessa vez em francês. Ele estava se oferecendo para trazer outro carrinho aqui na minha casa. Incroyable, mas foi o que ele fez. Pegou o meu endereço e três horas depois bateu na minha porta com um carrinho novinho em folha e já montado. Ainda assim, fez questão de me dar o manual de instruções. Vendo o estado do carrinho que eu havia trazido, ele me disse: "alguém na loja vai levar uma bronca!"

Acho que o carrinho que eu trouxe foi uma devolução de alguém, pois havia inclusive um babador usado dentro da caixa. "Quem recebeu esse carrinho de volta nem chegou a conferir nada". Unbelievable, but it's true.

Ponto para a Toys-R-Us.

Bell: mantenha distância

No dia 30 de junho liguei para a Bell pra pedir uma conexão com a internet pro meu novo apartamento. Meia hora no telefone até conseguir, mas até aí tudo bem: a culpa era minha mesmo, que até então insistia em optar pelo francês nos atendimentos por telefone. Era difícil mas eu queria assim, afinal eu estava há poucos dias em Montréal. A moça que me atendeu foi super atenciosa e tal e coisa e coisa e tal. Quando eu não entendia alguma coisa, ela explicava em inglês. No final do atendimento - serviço contratado - ela me deu um número de confirmação do pedido e disse que em três dias teria o modem em casa e a internet funcionando. E eu acreditei.

Dia 2 fui ao site da Bell e tentei me informar sobre o status de meu pedido. Impossível. Segundo o cara que falou comigo pelo chat, meu pedido era pra utilizar uma tal de “dry loop” (um tipo de linha fantasma, que não serve pra falar, apenas pra usar com a internet) e nesses casos o atendimento tinha que ser por telefone mesmo. Pela internet não podia. Depois descobri que era porque eu deveria tratar com a Sympatico, uma empresa que a Bell “incorpora” na hora de vender, mas não na de resolver problemas.

Lá vou eu ligar para a Bell. O primeiro que me atendeu disse que não havia nenhum pedido com aquele número. O segundo - já em inglês, pois eu tinha desistido de tentar entender o francês dos atendentes - disse a mesma coisa. Então eu disse que tudo bem, já que não tinha nada em meu nome, eu iria contratar a internet da Videotron. Não podia era ficar esperando por uma coisa que não viria.

Desci pra ir a uma loja da Videotron e encontrei na minha caixa postal um aviso pra ir buscar uma encomenda no Correio. Era o modem. Voltei pra casa, instalei, pluguei e... nada. Liguei pra lá - dessa vez com minha “ID” - e finalmente fui identificado pelo sistema. Quase comemorei, mas a pessoa que me atendeu disse que aguardasse mais um dia para que a tal “dry loop” fosse configurada para o meu apartamento.

Sexta-feira, dia 4. Internet sem funcionar. Telefono de novo pra Bell. Nada. Depois de meia hora de conversa eles “descobrem” que o problema não é na minha casa. “Nós vamos mandar um técnico para ver o problema, senhor”. Quando? Só na segunda-feira. Foi aí que me lembrei dos fantasmas, das almas penadas, dos monstros e dos pesadelos eternos da Cabo Mais e Telemar (ou Oi Fixo, ou que diabo de nome tenha aquela peste hoje). Era tudo igual, só mudava o idioma. Acho que todas elas devem ter uma certificação IDTC - Incompetência e Descaso Total com o Consumidor. Algo como um padrão internacional secreto, pelo qual elas brigam e se orgulham em manter ao longo dos anos.

Segunda-feira, dia 7. A internet, claro, sem funcionar. Ligo para a Bell e pergunto pelo sujeito que iriam mandar. Um momento. Vamos verificar. O problema não é no seu apartamento. Vou passar para o nível 2 do suporte (só pode ser piada). Senhor, há um problema na rede externa. Mas em no máximo três dias será resolvido. Três dias é o prazo máximo, o problema pode ser resolvido em dez minutos. O que o senhor faz? Espera. Mas pode plugar o modem e deixá-lo ligado. Assim, quando a luz da internet acender, o senhor saberá que já pode utilizar nossos serviços. Piada nível 2, claro. Não pode ser outra coisa. Não mandei o sujeito para a !@#$!$ porque não sou canadense. Mas que tive vontade, tive. Ah, bando de felas!

Quarta-feira, dia 9. A história se repete. Meia hora no telefone para ser transferido para o nível 2 do suporte, para ouvir de novo do @#%!#$ do atendente que o problema não era no meu apartamento. E que mandaria um “técnico” amanhã para verificar o que estava havendo. Dez dias esperando para ter internet em casa. Sem poder fazer nada. Só não disse um “fu** you” porque tive medo de ser processado. Afinal, aqui não é o Brasil. Não nesse aspecto. Já na impunidade das empresas...

Dia 10, das 13 às 17 horas. Esperei até as 18 horas e nada. Saí de casa. Às 20h30 liga alguém que se apresenta como técnico da Bell. “Estou na sua casa”. E eu respondi “Mas eu não estou. São oito e meia, esperei até as seis”. Segurei minha irritação e consegui combinar com ele para a tarde do dia seguinte.

O sujeito chegou aqui às 15h. Sem a mínima questão de ser Sympatico ele tenta por uma hora e não consegue colocar a internet pra funcionar. Pede a ajuda do serviço do condomínio para ter acesso à caixa dos telefones, no térreo do edifício. Recebe como resposta um aviso de que terá que esperar em torno de meia hora. Olha pra minha cara e diz que só pode esperar quinze minutos. Se demorar mais do que isso, ele vai embora e eu vou ter que agendar novo “rendez-vous” (já tô cheio com essa história de rendez-vous pra tudo). Eu disse a ele que estava esperando há onze dias, ontem tinha esperado a tarde toda, e se ele não poderia esperar os trinta minutos pelo rapaz do condomínio. Ele disse que não. Eu e o condomínio temos que estar disponíveis na hora em que a Bell quiser, mas ele não pode esperar meia hora? É isso mesmo. Passados quinze minutos, ele liga de lá do térreo e avisa que vai embora. Eu digo o porteiro eletrônico está sem funcionar, que há uma bagunça na minha sala, tomada aberta, fios e pedaços de plástico pelo chão, e que ele não pode deixar assim. Aqui tem um bebê. "Mas o telefone está funcionando." Não está, pois os fios estão cortados. Ele simplesmente desligou na minha cara. Cinco minutos depois chega ao meu apartamento. De cara amarrada, apenas liga os fios. Deixa a tomada sem tampa, como se fosse a privada da casa da mãe dele. Só abriu a boca pra perguntar se eu ia agendar novo “rendez-vous”. Claro que não, eu vou devolver o modem e contratar outra empresa. “Qual?” A Videotron. Na hora de sair, na porta, ele ainda disse “Se o senhor não sabe, a culpa é da Videotron. Nós somos vítimas, eu e o senhor”. A Bell? Vítima? Antes que eu dissesse qualquer bobagem ou fizesse uma besteira, soltei um “Merci et au revoir”.

Na mesma tarde fui a uma loja da Bell pra devolver o modem. Não aceitaram. Eu tinha que tratar disso por telefone. Inacreditável. Na segunda-feira eu telefonei e cancelei tudo. E eles nem se preocuparam em saber o porquê. Devolvi o modem pelo correio (pagando do meu bolso, porque não tinha um tal formulário para devolução gratuita em mãos e não queria ter que falar com eles novamente) e em seguida fui a uma loja da Videotron. No dia seguinte, menos de 24 horas depois, já tinha internet e TV a cabo em casa. Se eu soubesse disso antes...

A Bell é a réplica perfeita da Telemar e da Cabo Mais. Unbelievable! Incroyable! E eu que achava que ia me ver livre desse tipo de empresa, desse tipo de tratamento absurdo que eu pensei que só existia no Brasil. Que inocência a minha!

domingo, 29 de junho de 2008

Sardinhas das Filipinas, tapioca da Tailândia

Aqui é possível encontrar comida de quase todo lugar do mundo (só não digo do mundo todo porque até agora não achei nada de Vanuatu). Já comi sardinhas das Filipinas, tapioca da Tailândia, biscoitos da Suécia, chocolate da Alemanha e já tomei leite Ninho (alías, Nido) da Holanda. Isso fora as coisas que não trazem na embalagem nenhuma informação sobre sua origem. É só um "emballé au Canada" e priu. A variedade é uma maravilha, mas a mistura tem que ser feita com cuidado. Os ônibus passam na hora, o metrô passa no máximo a cada sete minutos, mas nem sempre tem um banheiro perto.

À bientôt que eu vou ali e volto já.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Autorização para evacuar?

Montreal é mesmo uma cidade meio estranha. No metrô é possível ler instruções sobre o procedimento de evacuação a ser posto em prática em situações de perigo, que diz assim: "Attendez l'autorisation avant d'evacuer", algo como "espere autorização antes de evacuar".

Imagine só... aguardar autorização pra evacuar! Não sei não... dependendo do perigo, nem sempre vai ser possível esperar. Se o medo for grande, vai ter sujeito evacuando ali mesmo, sem autorização nem nada.

Olha a placa aí:

(Clique sobre a foto pra aumentar)

domingo, 22 de junho de 2008

Aqui tem muriçoca!

Quase eu não acreditei quando vi a primeira muriçoca aqui no Canadá. Foi no parque Angrignon, um parque gigantesco, já na beirinha inferior da ilha de Montreal. Olha a danada aí:

A sorte é que as muriçocas daqui são comportadas e não vão para a cidade, ficam só no meio do mato. E acho que são educadas também, pois ninguém levou ferroada. Pelo menos até agora. ;)

À bientôt!

quinta-feira, 19 de junho de 2008

A primeira imagem

Essa foi a primeira imagem que tive de Montreal, no dia da minha chegada. Da janela do avião, pude (re)ver o parque olímpico, o Mont-Royal, a ponte Jacques Cartier, o rio Saint-Laurent...

Ponte e rio. Bonitos como no Recife.

Não dá pra entender

Há coisas em Montreal que não dá pra entender. Uma delas é o preço dos cortes de galinha. Por que a asa de galinha custa mais do que a coxa ou sobrecoxa? Não foi num lugar só; em todo canto é assim. A asa só tem osso e couro, como pode ser mais cara? Certamente pela demanda. Há quem prefira a asinha, com quase nada pra comer. Será que é pra fazer sopa? Confesso que não entendo essas coisas.

Pior do que isso, no entanto, é a conversa das pessoas nas ruas, nos ônibus e no metrô. Um fala árabe, outro hebraico, outro russo, outro italiano, outro um idioma que não dá pra reconhecer. Se duvidar, tem até gente falando esperanto. :) Não é fácil entender as pessoas, mesmo quando elas falam francês. O sotaque québecois é estranho, chega a ser engraçado. Hoje, uma semana depois de minha chegada, acho que já consigo entender 10% do francês québecois. Dependendo da calma de quem fala, talvez chegue aos 40%. Não sei quando chegarei aos 100%, mas sei que vou precisar visitar muito o site do Têtes à Claques pra chegar lá . ;)

À bientôt!

Duas da manhã, 13 graus

É verão mas o frio continua aumentando. Às duas da manhã o The Weather Network avisava: treze graus. De novo não resisti e saí só de bermuda. Sem vento é perfeitamente suportável. Mas eu vou parar por aqui. Se algum vizinho me vir de bermuda na varanda, de novo, vai pensar que eu aloprei.

Como é bom dormir sem ar condicionado e sem muriçocas! :)

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Uma da manhã, 16 graus

Estava eu aqui, lendo e-mails e fazendo upload de fotos para o álbum de Eduardo, quando vi no The Weather Network que lá fora estava fazendo 16 graus. Mesmo estando só de bermuda, não resisti e fui lá fora conferir. Que maravilha! Lua bonita, clima de geladeira... Um dia de calor intenso merecia terminar com essa "frescurinha". Passei uns cinco minutos me deliciando com a temperatura, até que um ventinho sacana me obrigou a entrar. 16 graus, tudo bem. Mas sem vento, por favor.

Não sei se vou gostar tanto quando a temperatura baixar a -16º C.

À bientôt!

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Chegamos!

Depois de uma viagem de 24 horas, extremamente cansativa, chegamos a Montreal. Era pouco mais de meio-dia. Nossos amigos Rapha e Carol foram nos buscar no aeroporto e foram conosco até nosso (provisório) novo apartamento.

Não bastasse ter carregado trocentas malas desde o Recife, ao chegar no apartamento dei de cara com escada gigantesca com quase noventa graus de inclinação. Quase volto dali mesmo. Sorte que o dono, Stéphane, foi extremamente gentil e carregou as malas pra mim. 32 quilos cada uma, e ele levantava como se levantasse uma mochila vazia. Só deixou no meio do caminho, mas São Raphael estava lá para nos socorrer. ;)

A cidade está bem mais bonita do que da primeira vez que estive aqui, em 2004. Era abril, quando ainda havia "neve suja", tempo nublado e chuva. Na época achei Montreal muito feia, mas felizmente a cidade agora está ensolarada e as árvores estão todas verdes, o que me fez mudar de opinião.

Mesmo cansados, ainda tivemos força para sair à noite. Quer dizer... noite só na teoria, porque às 20h30 ainda estava muito claro no parque La Fontaine, onde Eduardo se esbaldou. Correu, pulou, gritou, sorriu. E adormeceu nos nossos braços, na volta pra casa.

Bonjour, Montréal!

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Tensão pré-Montreal

Crônica publicada originalmente no site "A Crônica do Dia" em 12/05/2008)

Noites de insônia, programinha de contagem regressiva na tela do computador, dúvida, receio, indecisão. É a TPM, que — acredite — também atinge os homens. Há semanas eu venho sofrendo de Tensão Pré-Montreal.

Quem me conhece sabe o quanto eu sou apegado à minha cidade. Nunca me imaginei morando noutro lugar que não o Recife. E sempre disse isso pra todo mundo. Viver longe do Carnaval, do frevo, do maracatu, dos caboclinhos e do manguebit? Deixar pra lá o forró (o de verdade, por favor) e o São João? E o rio Capibaribe? E a praias de Boa Viagem, Porto de Galinhas, Serrambi? Ficar sem comer aquele siri-mole ao alho e óleo do Bar do Cabo, os caranguejos ao molho de coco do Guaiamum Gigante, os ensopadinhos de aratu e as agulhinhas fritas de Porto de Galinhas? Nem pensar. Passar sem os jogos do meu Náutico, logo agora que ele está na Série A pelo segundo ano consecutivo, depois de doze longos anos afastado? De jeito nenhum. Pior que tudo isso, só viver longe do meu pai e de minhas irmãs e sobrinhos. Não, de forma alguma, nem em pensamento!

Acontece que as coisas mudam. Há um ano realizei o meu sonho de ser pai, e agora tenho que pensar também no futuro do meu filho. Não posso mais pensar apenas no que é bom pra mim, mas devo pensar principalmente no que é melhor pra ele. E é por isso que em poucas semanas estarei partindo pra morar no Canadá, como imigrante. A cidade que escolhi? Montreal, aquela das Olimpíadas de 1976, que eu nunca pensei sequer em visitar.

Não vou em busca de dinheiro. Vou em busca de um lugar melhor para viver, onde possa ter um mínimo de segurança e onde as pessoas saibam o significado da palavra respeito — coisas difíceis de se encontrar no nosso país ultimamente. Pelo menos na minha cidade. E isso tem um preço: me afastar das coisas e das pessoas que gosto. Preço muito, muito alto.

Mas eu estava falando era da TPM. À medida em que a data da viagem se aproxima, ela aumenta. Checar todas as minhas coisas, separar o que levar, o que vai ficar e o que vou jogar fora... não é uma tarefa fácil. Tanto papel inútil que eu juntei (imagine só, eu tinha guardado o meu primeiro talão de cheques, de 1980!) que só olhar já me deixa cansado. E tem mais: separar CDs, DVDs, roupas, livros, fotos... tudo o que eu juntei nesses 46 anos... e fazer com que tudo caiba em apenas duas malas? É ou não é pra ficar com TPM?

O tempo é curto e há tanta coisa por fazer que não há como não ficar nervoso. Será que vai dar tempo de fazer tudo? Será que não vou esquecer de alguma coisa importante? E quando chegar lá?

Como vão ser os primeiros dias? Vou conseguir entender o francês “québecois”? E a ansiedade para escolher o melhor bairro para morar? Tem parque perto? E estação de metrô? Há alguma boa creche onde possa matricular meu filho? E como vai ser quando o tempo esfriar, daqui a alguns meses? Como vai ser quando fizer -20ºC? Só de pensar já sinto o frio: bem na barriga.

TPM é assim. Faz até a gente deixar de escrever. Ou escrever e achar que está horrível. Ou ainda pior: levar semanas pra escrever uma simples crônica e ainda assim não conseguir explicar direito o que é a tal tensão pré-Montreal. Quando ela passar, talvez eu consiga. Por enquanto vou tratar de combater a danada passando esses dias com a família e com os amigos. ;)

À bientôt, mes amis!

P.S.: Só pra constar: faltam

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Uma delícia "fabriqué au Québec"

O sabor é parecido com o do nosso pirulito de tabuleiro (*), sendo que muito mais suave e levemente "amadeirado". O tire (ou taffy, como é mais conhecido fora do Quebec) é uma delícia: provou, gostou. E não é só o tire, não. O sirop d'érable (ou maple syrup) que é a matéria-prima do tire, é fantasticamente gostoso. Tem que ter cuidado, senão vicia.

Eu e Keilla ficamos viciados no tire e no xarope de maple. Todo dia tinha que ter um ou outro. Compramos até - acredite! - uma lata de feijão com xarope de maple. E sabe que, apesar de parecer estranho, até que não era ruim? Era só um pouco enjoado. ;)

A nossa festa, no entanto, foi numa érablière (ou
cabane à sucre ou sugar shack, fique à vontade pra escolher) chamada Le Chemin du Roy. Lá, fizemos a festa: panquecas com sirop d'érable, tire, presunto defumado com sirop d'érable, tire, depois mais tire e pra terminar... leite com sirop d'érable, para espanto da moça que nos servia. Só não tomamos o xarope na veia. Ainda bem que não somos diabéticos. :)

Claro que não poderíamos voltar ao Brasil sem trazer na bagagem uma "pequena" amostra do fabuloso xarope canadense: compramos nada menos do que doze latas de 500 ml. Seis litros de sirop d'érable pra saborear no Brasil! Que maravilha!

Mas sabe como é... tudo o que é doce enjoa, não é mesmo? Hoje eu não quero mais saber do tal xarope. Enjoei. Tenho saudades do tire, que não posso fazer no calor do Recife. Eu que não vou comprar uma barra de gelo, fabricar neve, ferver o xarope e colocar em cima pra fazer tire. Ainda não enlouqueci. Prefiro esperar para o dia em que retornarmos ao Quebec.

À bientôt!

(*) Quem não teve o prazer de conhecer os tais pirulitos de tabuleiro, que existem (ou existiram) pelo Brasil afora, pode vê-los nos sites www.rainhasdolar.com ou www.brazilindavis.org

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Nossa chegada à cidade de Quebec

Nossa chegada à cidade de Québec foi meio complicada. Depois de uma longa viagem de oito horas de trem desde Toronto, chegamos um bagaço. Ou melhor, dois bagaços. O trem era muito confortável, a paisagem muito bonita, estresse zero... mas oito horas é muito tempo. Mesmo no maior conforto.

Eram quase nove da noite quando o trem chegou. Assim que saímos na rua, cheios de malas - quatro malas de puxar, mais duas pequenas a tiracolo, para ser mais preciso - percebemos que ventava muito. Era um vento forte, que para nosso espanto, derrubou a mais pesada das malas, que tínhamos colocado de pé enquanto decidíamos se íamos de taxi ou a pé para o albergue. Não bastasse o frio, ainda teríamos que enfrentar um furacão?

Consultamos nosso mapa, telefonamos para o albergue e resolvemos ir a pé. Antes tivéssemos pegado um táxi. Além da dificuldade de localizar o albergue - que só conseguimos depois que resolvemos pedir ajuda aos sempre prestativos canadenses (perdão; quebecoises). Uma vez localizado, ainda tivemos que subir ladeiras intermináveis carregando aquelas incontáveis malas que, a essas alturas, já pesavam pelo menos meia tonelada cada uma. Nunca vi tanta ladeira. Nem Olinda!

Já eram quase dez da noite quando finalmente chegamos ao albergue (Auberge Internationale de Québec - 19 Rue Ste Ursule, QC - G1R 4E1- Quebec) uma maravilha de albergue, justiça se faça. Hoje, quase quatro anos depois, só me lembro de nossa chegada. Não faço a mínima idéia do que aconteceu depois. Acho que caímos no sono. No dia seguinte começamos nosso passeio pela agradabilíssima cidade do Quebec. Mas isso é motivo pra outro post. ;)